quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Artigo | Club Penguin, Black Mirror e sociologia

 Olá eternos pinguins, vocês sabem que eu não posto mais nada aqui faz vários meses, já que não tive tempo (e nem o que postar, já que o CP acabou). Porém, o meu contato com a sociologia no Ensino Médio (juntamente com as séries da famigerada Netflix) me fez pensar sobre tudo o que eu já vi no Club Penguin nesses últimos anos.

 Um mundo alternativo
 Por mais tosco que isso possa soar, o Club Penguin se situa em um outro mundo, a internet. E sabemos que dentro do universo digital há uma gama extremamente diversificada de tribos/grupos,  que nos proporcionam momentos que muitas vezes nos fazem esquecer do que estávamos fazendo no mundo real. Aonde eu quero chegar com isso? Bom, embora o CP não fora um jogo totalmente imersivo como o jogo visto no episódio USS Callister de Black Mirror, foi um jogo que se desenvolveu seguindo as peculiaridades de um MMOSG, o que consequentemente criou uma sociedade virtual.


Um caldeirão de interações sociais
 Antes de começarmos a reflexão sociológica de fato, acho importante pensarmos na classificação do CP enquanto jogo, ele foi um MMOSG, e esse tipo de jogo tem características muito interessantes:
''MMOSG é abreviação para Massively Multiplayer Online Social Game (Jogo Online Multijogador Social em Massa). Um estilo, ou modalidade de jogo em ambiente digital, com foco na interação social. Jogos dessa categoria oferecem um ambiente virtual no qual os jogadores podem interagir e conversar. Essa é uma ideia baseada na conceito atual de 'Comunidades Online' e 'Mundos Virtuais'.'' - Wikipédia
 Percebemos que o Club Penguin teve como princípio a interação social. E como bem sabemos, interações criam relações! Aquele peculiar mundo virtual onde você, que personalizava seu pinguim e seu iglu saía por aí conversando com estranhos sobre qualquer coisa que o filtro do bate-papo permitisse não ficou livre do surgimento de uma sociedade própria. Assim, esse, inicialmente singelo, mundo virtual estruturou sua norma e dinâmica próprias que não constavam nos Termos de Uso, mas que simplesmente floresceram, já que ninguém pode barrar totalmente as relações sociais. É sabido que essas relações se prolongaram pra fora do jogo, nos grupos de jogadores em redes sociais e blogs e até mesmo nas críticas que diziam que o CP incentivava o consumismo e não fornecia a segurança adequada às crianças, porém isso é assunto de outro post, estamos aqui pra falar do jogo em si.

 O que aconteceu foi que nasceu um mundo análogo ao nosso, mas extremamente parecido. Basta olhar esse velho print que eu mesmo tirei...


Um mundo diferente, mas familiar
 É tão Black Mirror pensarmos que gastamos o tempo de nossas vidas construindo uma em um mundo virtual, principalmente quando lembramos dos membros da Turma do Âncora que gastavam o tempo deles escolhendo uma roupa ''descolada'' para ficarem parados em uma sala de um jogo infantil. O meio mais simples de regular as relações sociais que se configurariam como uma patologia social, um desvio da norma, é a imposição de regras e de uma punição caso elas sejam quebradas. Além disso, no Club Penguin procurou-se regular o convívio por meio de ferramentas que impediam certas atitudes, o bate-papo seguro era uma delas, assim como a saudosa equipe de Moderação do jogo.

 Mesmo com enormes limitações surgiram algumas peculiares que eu irei analisar mais profundamente nesse post. Podemos estudar sociologia analisando a estrutura social do Club Penguin

O líder supremo era a Disney
 A Disney, manifestada através da equipe que coordenava o jogo, controlava as festas e tudo o que iria ser incluso ou removido do jogo. Entretanto, por mais que mudassem o ambiente, as interações permaneciam, se renovavam, mas não morriam.

Havia cultura
 A definição mais tradicional de cultura é de Edward B. Tylor que nos diz que cultura é:
 ''Todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". 
 Pois bem, o Club Penguin em si é arte, um jogo com uma estética única que se transformou com o passar do tempo. Além disso, a comunidade era regulada pelas normas ditadas pela Disney, que querendo ou não foram feitas seguindo uma moral (afinal, banir quem fala palavrões mostra uma visão de mundo sobre o que é preservar o jovem; vale destacar que essas regras são reguladas por um conjunto de regras maior: a Constituição).

 Não é só a Disney que tem suas crenças e sua moral, os jogadores também têm as suas, contudo, todos tem que se submeter às regras constitucionais e as regras do jogo. É evidente que o conhecimento que levamos pro jogo vem do mundo real, assim como os nossos costumes e hábitos, que acabam criando hábitos que só existem no jogo. A cultura do jogo foi uma extensão da cultura das pessoas que participaram do mesmo.

 Concluímos que o Club Penguin foi um reflexo da sociedade que existe aqui no mundo real, todavia houve o surgimento de um ''regime'' próprio influenciado diretamente pelo mundo exterior.

Última versão do Café

Primeira versão do Café
  Em minha opinião, o design do Club Penguin era muito bonito, esteticamente confortável (talvez por ser de um jogo infantil). Como quase tudo no jogo, o traço dos pinguins e das salas mudaram bastante com o passar dos anos. Apesar da estética das salas ser controlada pela equipe, o jogador tinha muita liberdade de estilo, podendo decorar seu iglu ou se vestir como bem entender (claro, os móveis e itens eram todos desenhados pela equipe, mas por serem diversos, não diminuíam a liberdade de escolha significativamente, só se você fosse não assinante), querendo ou não, isso desenvolvia a criatividade e a liberdade de expressão.

 Acredito que o Jogo dos Temas e o Jogo das Cores foram um dos maiores exemplos de tradições criadas pelos próprios jogadores. Esses minijogos não eram oficiais, mas se popularizaram por serem simples e divertidos. Se quiser ler mais sobre, clique aqui.

Segregando os jogadores
 Havia a necessidade de arrecadar dinheiro para manter o jogo em pé (e encher o bolso do Disney). Por que não criar uma assinatura? Assim, só quem pagasse poderia ter acesso ilimitado a tudo o que o jogo podia oferecer, e quem não pudesse pagar o benefício ou simplesmente não quisesse, teria que se contentar com os itens grátis, as fases livres dos minijogos e as salas públicas. E se você quisesse ganhar um item realmente bacana, mesmo sem assinatura, acabaria gastando dinheiro com outras coisas da Disney: brinquedos, livros e revistas, por exemplo.


Clássica vestimenta de um não assinante.
 O termo não assinante nunca foi oficial, o que era oficial era o termo assinante. No entanto, a distinção entre o jogador que possuía assinatura e o que não a possuía começou a se tornar gritante, daí surge o termo não assinante para identificar quem não tinha o benefício.

 Como a maior parte dos jogadores eram crianças, construindo sua visão de mundo sem um critério muito rígido, não deu outra: o cyberbullying se construiu no jogo através dessa distinção entre quem tem assinatura e quem não tem. Um preconceito ridículo, porém, marcante. Não havia como esconder, o cartão de pinguim dos assinantes possuíam uma insígnia brilhante escrito ''assinante'' em caixa alta, o dos não assinantes uma simples estrela.

 Possuir ou não uma assinatura significava aproveitar o jogo ou não, e alguns que a tinham, faziam questão de se relacionar apenas com quem também a tinha. Eu já fui não assinante, e também assinante, quando a assinatura acaba é como ter seus direitos cassados na vida real, você não pode fazer muita coisa. Karl Marx (pensador que defendia que o modo de produção determinava a estrutura da sociedade), porque choras?

 Analisando friamente, vemos que não assinantes e assinantes são quase que uma analogia com pobres e ricos/''vips''.

Deixo aqui alguns links sobre não assinantes e assinantes: desigualdade entre assinantes e não-assinantesnão-assinantes.

Que tal se organizar em grupos?
 Muitos jogadores entravam no Club Penguin apenas pra jogar alguns minijogos, redecorar o iglu, mudar de roupa e depois se deslogavam. É justo, já que o jogo foi feito pra isso, porém, tínhamos outros jogadores que se organizavam em grupos: as clássicas Turma do Âncora e Turma do Lago.

 Não se sabe quem de fato criou esses grupos, sabe-se que entre 2011 e 2012 eles se tornaram influentes, e inclusive, grupos rivais. Totalmente distintos, a Turma do Âncora era para quem gostava de jogar conversa fora, zoar e vestir roupas ''betas'', as roupas mais antigas do jogo, que davam um ar de experiência ao jogador (e segundo fontes indeterminadas, essas roupas tornavam o jogador descolado). Os integrantes dessa turma muitas vezes desobedeciam as normas do jogo ao hackear itens antigos e ao enaltecer os assinantes e os jogadores antigos, deixando de lado os novatos e os não assinantes.



 Já a Turma do Lago era singular, pois se inspirava em um enredo semelhante ao de Star Wars misturado com temáticas medievais e Harry Potter, e englobava, principalmente, dois grandes grupos rivais que viviam em um eterno confronto: as Trevas e a Luz (existem outros nomes, mas o contraste é esse). Eram mais receptivos aos jogadores não assinantes e novatos, porém quem tinha mais popularidade eram os integrantes mais antigos. As rivalidades internas da Turma do Lago entre Luz e Trevas causaram muitos atritos intermináveis e desnecessários que eram levados até fora do jogo, como em blogs, por exemplo.



A oposição de visão de mundo desses dois grupos criou uma rivalidade que permeou toda a história das mesmas. Emboras possuíssem algumas semelhanças, como o uso de apelidos. Percebemos que jogadores com interesses comuns se juntaram em grupos, as consequências negativas foram que ambas as turmas tinham comportamentos tóxicos.

Deixo aqui alguns links sobre a Turma do Âncora e a Turma do Lago: sociedade das Turmas e características das Turmas.

Quem quer namorar em um jogo infantil de pinguins? Um monte de gente!
 Uma das coisas mais diferentes que eu já vi foram os pares, como o filtro do bate-papo não permitia falar muito sobre o âmbito amorosos, foi cunhado o termo ''par'', que substituiu ''casal''.


 Os pares eram mais comuns entre os integrantes da Turma do Âncora,  basicamente você deveria chegar em algum pinguim e perguntar se ele queria ser seu par, caso concordasse, considere que você está em um namoro virtual. ''Webtraições'' eram extremamente comuns, e se você  não adicionasse seu par como amigo, dificilmente o veria novamente. Creio que os pares não sejam muito adequados para um jogo infantil, muitas vezes os mestres supremos da ambiguidade burlavam o filtro do bate-papo gerando situações estranhas, além disso, várias vezes apareciam sem itens no corpo insinuando certas ações.

 Não era raro algum pinguim chegar em você fazendo emoji de coração ou dizendo coisas agradáveis, e claro, na maioria das vezes as pessoas fugiam disso. Era muito claro que os pares frequentemente não eram levados a sério, com raras exceções, era como um alívio cômico. É bem Black Mirror se relacionar com uma pessoa que você não sabe quem é, e não tem nem garantia do sexo dela, num jogo infantil onde você é um pinguim...

 Clique aqui para ler mais sobre os pares.

''Festa no meu iglu!''
 Mais legal do que ficar parado em alguma sala ou jogando Esmaga Fruta, era participar das festas. Era tradição os pinguins, em servidores cheios como Deu Branco ou Zero Grau, irem no Centro dançar e divulgar alguma festa no seu iglu, ou então divulgar seus próprios restaurantes, escolas, hospitais, etc.

 Era aqui que a criatividade morava, havia pessoas que passavam horas decorando seus iglus, e os resultados eram muito agradáveis. O mais interessante é que você conseguia, de certo modo, brincar com os jogadores, fingindo exercer alguma profissão, ou então, jogar conversa fora numa festa em algum iglu por aí. O lado negativo era que em alguns casos só realizavam festas procurando conseguir selos ou likes para o seu iglu, o que muitas vezes fazia com que alguns jogadores fossem em outros iglus boicotar os eventos divulgando sua festa no mesmo, ou então, atrapalhando quem estivesse ali.


Muitos empregos
 Havia o Dojo, a EPF, a Pizzaria e muitos locais que os pinguins podiam frequentar e que remetiam à instituições da vida real. Sendo assim, sempre os pinguins se passavam por garçons, agentes secretos, ninjas ou até mesmo ladrões e vilões.

 Muitas vezes, correr pela ilha fingindo estar numa missão secreta e entrar na Pizzaria onde pessoas fingiam ser garçons e pizzaiolos para prender alguém proporcionava momentos muito mais divertidos do que jogar um minijogo sozinho.

 Simular situações comuns da vida real, ou criar suas próprias histórias é muito rico para o desenvolvimento humano. Até mesmo fingir que é um cliente louco da Pizzaria e jogar a pizza no gerente, já que a imaginação fala mais alto (não dá pra jogar uma pizza em alguém no jogo).

Considerações finais
 O Club Penguin fez parte da infância de muitas pessoas, e se estruturou com um mundo à parte do nosso, diferente, mas nem tanto, já que é um reflexo do que vivemos aqui.

 Querendo ou não, as interações sociais construíram relações sociais que só existiam no jogo e que podem ser analisadas sociologicamente. Não assinantes e assinantes nos remetem à condições socioeconômicas do mundo real, uma luta de classes que nos remete ao Marx, os hackers que discriminavam novatos e não assinantes nos lembra da patologia social de Durkheim e o ato de ir ao Centro anunciar uma festa é porque é tradição anunciar festas naquele local, o que nos recorda ação social de Weber.

 Portanto, é importante perceber que podemos analisar a sociedade com base nas teorias sociológicas e tentarmos entender os comportamentos dela. Mesmo estudando apenas os clássicos da sociologia, aqueles que ajudaram a fundá-la e a consolidá-la como ciência humana, podemos usar a teoria deles para compreendermos o porquê das coisas serem como são. Você não tem que concordar com as análises, mas deve saber que existem várias perspectivas e linhas de pensamento que você pode usar pra entender o mundo. Se quiser começar a entender a sociologia básica, estude as ideias de Marx, Weber, Durkheim, Comte, Spencer e o processo de socialização e o conceito de sociologia e sociedade. Depois estude a organização social, a cultura, a religião, a opressão, a sexualidade, entre outros tópicos.


terça-feira, 19 de março de 2019

Club Penguin | Minhas recordações nostálgicas de 2012

  Olá pinguins, com o fim do Club Penguin eu não tenho muito o que postar, mas ultimamente sinto saudades dos velhos tempos do Club Penguin, então resolvi escrever essa postagem.

  O Club Penguin entrou na minha vida em 2012, era uma febre na minha turma, tinha gente que jogava desde 2011, mas eu demorei para criar uma conta. Criei uma em agosto antes da festa Aventura Tropical começar, porém, meu amigo roubou a conta, então no fim do mesmo mês eu criei o Darwin 1501 (ele foi meu pinguim até 2014, quando foi banido para sempre), esse foi meu pinguim por um bom tempo.

  O ano de 2012 foi sem dúvidas o melhor ano para o Club Penguin, foi o auge. De 2009 até 2012, podemos falar que foram os melhores anos do Club Penguin, a partir de 2013 começou a decair, só que 2013 foi um bom ano, depois de 2014 que decaiu de vez.

  A primeira festa que eu participei foi a icônica Festa Setembrina 2012, eu me lembro até hoje de ir na Floresta e jogar Ping Puffle, que para mim foi o melhor jogo da festa. E depois de jogar bastante, eu peguei os tíquetes que consegui e adquiri itens memoráveis, como ''O Sorvete Surpresa'', na época eu peguei todos os itens da Barraca de Prêmios.



 Também me lembro de meu primeiro pin, o pin Moinho, eu demorei um pouco para entender o que era um pin. Infelizmente, não peguei o próximo pin, o pin Sorvete Triplo, porque eu não sabia o que era um pin, mas depois eu colecionei todos.

  Eu lembro de ter visto o Moinho no Ancoradouro e não ter entendido o porquê dele estar ali, até que cliquei nele e descobri que era um item, então eu o adquiri.


  Na Festa de Halloween 2012 eu já entendia como o jogo funcionava, foi uma festa fantástica, com o lançamento de Ghost Just Wanna Dance e com a Mansão de Gariwald VIII, como na época eu não acompanhava os blogs de CP, tudo para mim era uma surpresa (eu só acessava a página de códigos do CP Premium). A Caçadas das Chaves do Gary foi muito bacana, eu saí procurando por toda a mansão, demorei um pouquinho, entretanto achei todas as chaves. Boas lembranças! E eu queria muito poder me transformar em fantasma na festa, porém eu não tinha assinatura.


  Eu também participei da Festa do 7º Aniversário, me lembro de pegar o chapéu e ficar lendo as mensagens dos famosos no final do Livro do Ano. Aliás, eu adorava desenhar os famosos.


  Os meus melhores momentos no Club Penguin foram em 2012, principalmente na Operação Apagão! Que festa, meus amigos! Que festa... Me lembro como se fosse hoje eu logando no Club Penguin no dia 15 de novembro ansioso para ver a festa, uma das mais marcantes na história do jogo. Também me recordo de ver o clássico vídeo da Operação Apagão (se lembram da frase ''Dia 15 de novembro... O inimaginável vai acontecer.''?)

Foi uma festa realmente icônica, tivemos muitos personagens envolvidos, por exemplo a Dot, uma das melhores personagens em minha opinião. O Club Penguin nunca foi tão ativo como em 2012, lembram do site do Herbert? Da primeira aparição do Herbert na ilha? De todas as interferências e consequências da Operação Apagão na ilha? Muitas lembranças... Essa festa foi de arrepiar!


  Por último, e não menos icônica, a Festa de Fim de Ano 2012! As transformações em Nevasca, Renuffle e Carro de Brinquedo foram um sucesso (mas a mais legal era a de Nevasca). Lembro bem de quando todo mundo andava agitado pelas salas depois de avistar algum pinguim com a mística cor branca! Não muito depois ela foi disponibilizada para todos pinguins. Além da clássica parada do Migrator no fim do ano, tivemos o lançamento de Cool in the Cold.


  Foram bons tempos que não irão voltar! Foi muito bom ter vivido esses momentos no jogo. Nessa época a comunidade CPBR/PT estava bem ativa, e as lendas da blogosfera também. #ThanksCP

O que vocês acharam? Fiquem atentos para mais postagens! Deixe sua opinião nos comentários!
Até mais e... Pinguinando!